sexta-feira, 17 de julho de 2009

MEDO

Adentrou em meu lugar de silêncio antiquado, um senhor, parecia caquético e ligeiramente sujo, mas mais por preguiça de se limpar do que qualquer outro motivo. Disse-me:

- Bom dia! Estou procurando algo pra comprar, mas não encontro...

- Pois não meu senhor, trabalhamos com boas e qualificadas antiguidades.

-Pois bem moço, estou vendo. Tem aí MEDO pra vender?

- Como? (Ri de lado)

- Medo moço! Medo, não sabe não?

- Lógico que sei senhor, mas é que medo não se compra ou vende em lojas.

- Sei sei, já me disseram isso, numa loja de conveniência logo ali atrás, na rua contramão, do lado do boteco dos filósofos. Mas como aqui vende coisas velhas vim ver se tem um medinho qualquer, velho, embolorado, e, barato se possível.

Pensei: "O velho é louco e está tão infeliz sem um medo, não custa ajuda-lo!"

- Peraí, peraí, lembrei! Acho que tenho um bem aqui, um minuto por favor.

- Você está brincando filho, tem mesmo? (Os olhos idosos brilhavam corajosamente)

Voltei, em minha mão direita uma arma velha do século XVII inglesa e na esquerda uma mortalha.

- Olha aqui seu velho maluco, vou te matar, essa arma está funcionando perfeitamente, depois de te dar um tiro na cabeça, vou te vestir com essa mortalha portuguesa de 1932, farei isso de graça seu desgraçado, e deixarei seu corpo apodrecendo em meu sótão.

O velho esmoreceu os olhos antes brilhosos e saiu correndo de meu antiquário, suando como um menino de 8 anos. Parecia feliz, parecia com medo. Ah como é bom ajudar as pessoas, mas o dinheiro que é bom não vem. Que medo de ter de fechar minha herança de família.

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